segunda-feira, 31 de julho de 2017

Sujou Piraquara

“O saneamento que a gente tem é esse aqui e esse esgoto está indo todo lá para o rio, que fica aqui embaixo, no fim da rua. E tem criança que brinca aqui. É uma vergonha ter que conviver com isso, com esse mau cheiro”, desabafa o consultor de negócios Bruno Frances de Oliveira, 27 anos, morador da Rua Fortaleza, Vila Vicente Macedo, em Piraquara, ao mostrar o esgoto que corre a céu aberto, em frente à sua casa.

Segundo Bruno e seus vizinhos, além do forte odor, o risco de contaminação com doenças, a umidade e rachaduras nos imóveis, e ainda o desagradável retorno da água suja pelos ralos dos banheiros e cozinhas, são comuns na região. Transtornos provocados pela falta de saneamento básico adequado, o que faz com que o esgoto que deveria ser coletado e tratado não tenha a destinação correta. Ainda de acordo com os moradores, as manilhas que escoam os dejetos até o rio também apresentam problemas.

“Nós não temos rede de esgoto. Nós temos as manilhas, que foram compradas pelos próprios moradores, mas que há anos estão entupidas. Desde 2014 tento uma solução com a Prefeitura de Piraquara e a Sanepar, mas nada acontece. Já abri dois protocolos na prefeitura, um em 2014 e outro em 2017. E eles disseram que iriam vir limpar as manilhas, mas até hoje não vieram”, diz Bruno, que ainda reclama de uma orientação que recebeu de funcionário da administração do município. “Disseram para eu denunciar o morador que está despejando o esgoto. Mas como vou fazer isso com um vizinho, para ele ser multado, se a culpa não é de dele e sim uma consequência deste entupimento, não resolvido por eles”.

Afetados

Na casa da mãe da dona de casa Cristine Gonçalves, 33, o problema é tão intenso que atrapalha até o sono dos moradores. “É um mau cheiro forte, a noite inteira, tem que dormir com a janela aberta. Minha mãe sofre bastante”, diz.

Já para a diarista Creuza Cordeiro de Oliveira Gonçalves, 54, a situação piora mesmo nos dias de chuva. “Quando chove, sobe todo este esgoto, que entra na garagem da minha casa. É ruim viver assim. Sai prefeito e entra prefeito e ninguém faz nada pela gente. Mas nós pagamos nossos impostos em dia”.

Outro prejudicado é o padeiro Edson Cesar de Oliveira, 48. “Lá em casa a água volta para dentro do quintal, alagando tudo. Chega a entrar ’dentro’ de casa. São muitos anos assim, com estas valetas entupidas”, reclama.

Problema social

Responsável por fornecer água potável para Curitiba e sete municípios da região metropolitana (Almirante Tamandaré, Campina Grande do Sul, Colombo, Piraquara, Quatro Barras, Pinhais e São José dos Pinhais), Piraquara é considerada a Capital das Águas do Paraná. Na cidade há uma área de proteção ambiental permanente, nascentes e represas. No entanto, na região visitada pela Tribuna, na Vila Vicente Macedo, de acordo com os próprios moradores, o esgoto cai em rios que fazem parte do sistema onde a água é captada, para depois ser tratada e fornecida à população.

“É essa a água que nós estamos tomando. Este rio é interligado com os outros. O que acontece com o esgoto é um problema social. Por isso pedimos a limpeza das manilhas e que a rede chegue até nossas casas. Nesta rua, a 100 metros daqui temos a rede de esgoto. Mas a única resposta que tive até hoje é que a Sanepar não tem condições fazer uma rede global de esgoto nesta região”, afirma Bruno.

Vistoria

A Prefeitura de Piraquara esclarece que é a responsável pela construção e manutenção das galerias de drenagem urbana e manejo de águas pluviais. A Secretaria de Infraestrutura promete fazer uma vistoria na Rua Fortaleza, para verificar as intervenções necessárias em atendimento ao protocolo 12981/2017, que está em trâmite. Sobre o zoneamento, a administração do município diz que a rua está localizada em uma Zona Residencial 3, onde é permitida a ocupação humana, não sendo uma área de manancial ou proteção ambiental.

Com relação ao lançamento irregular de esgoto, a Secretaria de Meio Ambiente informa que já fiscalizou e notificou a Sanepar sobre os problemas e as sanções. A Sanepar, por sua vez, alega que é necessário que a prefeitura fiscalize a região para verificar se está ocorrendo despejo irregular no rio. Mas a companhia salienta que a água captada recebe o tratamento necessário para cumprir todas as normas de potabilidade conforme Portaria 2914/11 do Ministério da Saúde.

Rede, só em 2019!

Sobre os problemas relatados pelos moradores da Rua Fortaleza, que vivem nas proximidades do Rio Iraizinho, a Sanepar explica que o endereço ainda não é atendido com rede coletora de esgoto. Assim, “conforme preconiza a Lei 11.445/07 – Lei do Saneamento, na ausência de redes públicas de saneamento básico, deve-se executar soluções individuais de tratamento do esgotamento sanitário, como fossa ou sumidouro, observando-se as normas editadas pela entidade reguladora e pelos órgãos responsáveis pelas políticas ambiental, sanitária e de recursos hídricos do município”, afirmou a empresa, em nota.

De acordo com a Sanepar, a responsabilidade pela aprovação e fiscalização destas soluções individuais é da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. “Não é correto, lançar o esgoto nas ‘manilhas’ – que são de responsabilidade da Prefeitura, pois a mesma deveria receber somente água de chuva”, ressalta.

E uma solução definitiva para o esgoto que corre na Vila Vicente Macedo ainda deve demorar. “A Sanepar elaborou projeto para instalação da rede coletora de esgoto e já está licitando a obra com recursos próprios. A previsão é de que a rede seja executada até 2019”, promete a companhia.

Fonte Tribuna do Paraná 31 de julho de 2017

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